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2018 | PAISAGEM COMUM

Paisagem Comum
Ana Albani de Carvalho, Curadora, doutora em Artes Visuais e professora (PPGAV/IA/UFRGS)

Sandro Ka pertence a uma geração de jovens artistas brasileiros interessados nas múltiplas possibilidades e sentidos decorrentes das fricções e cruzamentos entre os campos da cultura popular e erudita, linhagem que encontra referências em vários momentos significativos da arte pós anos 60. Desde 2003, trabalhando com proposições que exploram o procedimento da apropriação, o artista investe na potência crítica do humor e da ironia como forma de discutir a validade das regras que delimitam socialmente a noção de “bom-gosto” e as definições convencionais do que entendemos como “obra de arte”.

Inscrita nesta linha de pesquisa artística, Paisagem Comum convida o espectador a participar de um jogo entre memória e invenção, entre o racional e o inconcebível, na tentativa de decifrar o código interno que preside a montagem de um quebra-cabeças.  O ponto de partida para a instalação concebida para esta galeria consiste em coletar imagens que representem paisagens, no caso, cenas bucólicas com ar europeu e massificadas por reiterada repetição em ilustrações, cenas de filmes antigos, fotografias populares. Neste caso, 13 imagens foram escolhidas e reproduzidas como um jogo de quebra-cabeças nas dimensões de 30cm x 40cm. Cada imagem, por sua vez, foi multiplicada 10 vezes, possibilitando a criação de 130 “paisagens” distintas, através de jogos com inúmeras possibilidades de combinações, viabilizadas pelas peças moldadas em encaixes universais.

Por fim, na parede da galeria o artista realiza uma montagem específica, gerando uma espécie de narrativa visual sobre a paisagem: não linear, complexa, jogando com os vazios e com os desencaixes como se fossem as pausas ou os desencontros em uma conversa com um (des)conhecido familiar imaginário. Castelos, riachos, árvores e flores surgem em cenas que remetem a uma falsa memória, gerada por nossa repetida convivência com as imagens e produtos da indústria cultural de massa, produzindo uma sensação – ao mesmo tempo – de familiaridade e estranhamento. Paisagem é sempre jogo e resultado do olhar de quem observa, dualidade entre o mundo físico e os modos de ver o que manifesta em torno de nós. Nesse sentido, é sempre cultural, mais do que pura natureza. Para o espectador das paisagens ficcionais criadas por Sandro Ka está posto o desafio da imagem e o prazer de perder-se em seus labirintos visuais, pois o fio condutor de seu percurso é um segredo que somente o olhar atento poderá descobrir ou inventar.

Texto curatorial da exposição Paisagem Comum,

Museu do Trabalho, Porto Alegre/RS, 2018.

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